Um país em cima do muro

A Revista Brasileira de Política Internacional (RBPI) publicou em sua edição mais recente um artigo acadêmico em que apresento parte dos dados da minha pesquisa de doutorado pelo Brazil Institute do King’s College London, discuto a arcabouço teórico usado na minha tese e apresento parte da metodologia usada na análise de dados.

A ideia central do artigo é entender o caráter intersubjetivo do status em relações internacionais e mostrar que a percepção do prestígio do Brasil a partir da ótica britânica é de um país que está sempre em cima do muro, que não tem uma agenda de política externa clara e que se equivoca na interpretação do lugar que ocupa na hierarquia global e do seu papel no mundo.

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Assista abaixo a um vídeo em que o artigo é apresentado

O trabalho parte da ideia de que o Brasil historicamente sempre buscou promover sua imagem internacional e conquistar um status de país importante nas relações exteriores, a exemplo da tentativa de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU –mas que isso não parece alinhado ao que países com mais força global esperam do Brasil. 

O problema é que o status do país e o papel que ele desempenha do mundo depende do que as outras nações pensam sobre o país de que se trata. Então se torna fundamental entender essa percepção externa para saber mais sobre esse status.

A revista Mundorama publicou uma entrevista sobre as contribuições acadêmicas do estudo

Este artigo busca trazer duas contribuições importantes para a pesquisa acadêmica de relações internacionais e sobre o Brasil.

Por um lado, faz uma avaliação do status do Brasil a partir do ponto de vista de observadores estrangeiros, do Reino Unido. Isso traz à luz um entendimento sobre o que se pensa de fora a respeito do que o país está tentando fazer em sua política internacional.

Uma segunda contribuição acadêmica tem um enfoque mais teórico e metodológico. O artigo foi construído sobre a análise temática reflexiva de seis entrevistas com diplomatas britânicos que serviram no Brasil, e assim tem um enfoque na análise qualitativa do caráter intersubjetivo de status.

Isso é importante porque os principais estudos sobre status desde Max Weber apontam para o fato de que status sempre depende do que um ator faz e de como um ou mais atores externos interpretam o primeiro. Portanto o status de uma nação depende dessa percepção externa de todos os atores externos.

Só que até o momento os principais estudos sobre status em relações internacionais ou avaliam apenas as estratégias usadas por países para tentar melhorar seu prestígio, ou usam abordagens quantitativas baseadas em números de embaixadas entre os estados. 

O meu artigo busca preencher esta lacuna no conhecimento sobre status em relações internacionais ao usar uma abordagem qualitativa e com foco na intersubjetividade.

Os dados das entrevistas sobre a percepção externa do Brasil também são muito interessantes e servem para ajudar a preencher a lacuna no entendimento sobre o status do Brasil. Eles mostram que por mais que o Brasil tente melhorar seu prestígio há muitas décadas, não há um entendimento muito claro sobre o status internacional do país.

A percepção dos diplomatas britânicos é de que o Brasil é um país que tem muito potencial, mas que não alcança tudo o que pode em relações internacionais, e parte disso é por falta de uma estratégia clara para promover os interesses do país. Essa falta de estratégia está associada a essa ideia de que o Brasil está sempre em cima do muro –on the fence, como diz o título do artigo. O Brasil frequentemente alega neutralidade, e com isso acaba não se alinhando a nenhum lado em disputas internacionais, parecendo aos britânicos não querer se comprometer.. 

A partir dessa percepção britânica, portanto, essa imagem de ambivalência política do Brasil em relações globais pode ser um empecilho na busca por mais status internacional para o país.

É claro que essa avaliação do caráter intersubjetivo de status tem suas próprias limitações, Mas este é um primeiro passo importante para conhecer mais sobre esta percepção externa sobre o lugar e o papel do Brasil no mundo.

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